GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
Depois do ministro Nelson Jobim (Defesa) negar que o governo brasileiro tenha fechado acordo com a França para a compra de 36 aviões caça Rafale, integrantes do governo federal entraram em campo nesta quarta-feira para desmentir que haja um "mal estar" diplomático com os Estados Unidos e a Suécia --que também disputam a venda das aeronaves para o Brasil.
O assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, negou que o governo tenha fechado com a França a compra dos aviões. Garcia admitiu, porém, que os franceses têm "bons antecedentes" nas negociações comerciais com o país, ao contrário dos Estados Unidos --num sinal de que a disposição dos brasileiros é comprar os caça Rafale franceses.
"O ministro Jobim declarou que, como advogado, trabalha com antecedentes. E os antecedentes que tínhamos com outros sócios não eram bons. E os antecedentes que temos com a França, no caso dos submarinos e helicópteros, são bons. Vamos examinar os outros sócios, que seja o mais conveniente para o Brasil. O resto é especulação e eu não discuto impressões", afirmou Garcia.
Além de negociar a compra das aeronaves com a França, Lula fechou com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, a compra de helicópteros e submarino com tecnologia nuclear. Os franceses se comprometeram em transferir a tecnologia das aeronaves caso o Brasil escolha os caça do país.
Em nota divulgada nesta quarta-feira pela Embaixada dos Estados Unidos, os americanos reagiram ao anúncio do governo brasileiro de dar início às negociações com os franceses. Os EUA se mostraram dispostos a também transferir tecnologia das aeronaves para o Brasil, mas Garcia disse que é necessário cautela antes de qualquer acordo.
"Temos que avaliar se haverá garantias efetivas, porque transferência de tecnologia é um termo geral. Queremos saber também se não vamos sofrer nenhum tipo de restrição como sofreu a venda dos super tucanos [para os EUA]. Este antecedente não é bom. Diplomatas americanos reconheceram que esse não era um bom antecedente", afirmou o assessor.
Garcia disse que o governo brasileiro está disposto a analisar a proposta dos EUA "no momento em que o país ou os produtores fizerem proposta como a que os franceses nos fizeram". O assessor de Lula afirmou, ainda, que a negociação aberta com a França será estendida à Suécia e aos Estados Unidos.
"Não há ambiguidade, divisão no governo. Não estamos fechados na negociação com ninguém. Se houver outras propostas tão atraentes, ou mais, que o governo francês, vamos discutir. O que houve no dia 7 de setembro foi que temos uma boa experiência de parceria com os franceses, que se refletiu na questão dos submarinos e helicópteros. Está assegurada efetiva transferência de tecnologia", afirmou Garcia.
Negociação
Durante visita do presidente francês ao Brasil no dia 7 de setembro, Lula e Sarkozy divulgaram comunicado oficial no qual confirmam que os dois países deram início às negociações para a compra dos caça Rafale.
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) confirmou a disposição do governo brasileiro de fechar negócio com a França. Ontem, Jobim divulgou nota para negar que a França já tenha sido escolhida nas negociações para a compra das aeronaves.
Reportagem da Folha publicada nesta quarta-feira afirma que Lula, ao anunciar antes do esperado a definição do Brasil pelos caças da francesa Dassault, provocou constrangimento no seu próprio governo, que teve de recuar ontem, informando que o processo de seleção não está concluído e que o F-18 dos EUA e o Gripen sueco ainda estão na disputa.
O comunicado conjunto de anteontem dizia que Lula e o presidente Nicolas Sarkozy "decidiram fazer do Brasil e da França parceiros estratégicos também no domínio aeronáutico" e anunciava a "decisão" de entrar em negociações para a compra. Em nota ontem à noite, Nelson Jobim corrigiu: "o processo de seleção (...), ainda não encerrado, prosseguirá com negociações junto aos três participantes".
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