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sábado, 22 de agosto de 2009

COM O PT FRACO, PMDB PEDE MAIS POR ALIANÇA


NA ENCRUZILHADA DO PODER
O Globo

BRASÍLIA - Na mesma semana em que o Palácio do Planalto comandou uma operação para salvar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de uma investigação no Conselho de Ética, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado que o preço do PMDB para fechar a aliança com o PT, em 2010, será muito mais alto. De acordo com reportagem de Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos, o presidente foi cobrado por caciques peemedebistas para que marque para os próximos dias uma reunião de emergência com o PMDB.


Em tom de ameaça, integrantes do partido avisaram que, se não houver um enquadramento do PT nos estados, a legenda pode abandonar a pré-candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civi, Dilma Rousseff.

Mesmo com sérios problemas de imagem, o PMDB continua cobiçado tanto por Lula, como pelo PSDB. A reportagem mostra, no entanto, que diferentemente do Planalto, os tucanos já trabalham para ficar com setores do partido e, assim, evitar o desgaste público de uma aliança.

Lula tenta adiar ao máximo as negociações

Ainda de acordo com a reportagem, ao perceber o tom de ameaça do PMDB, o presidente Lula tenta empurrar a negociação com a barriga para pagar um preço mais baixo pela aliança. Segundo assessores palacianos, ele faz uma aposta de risco: vai esperar até o próximo ano para bater o martelo com o aliado. Lula aposta na consolidação da candidatura da ministra Dilma Rousseff ao Planalto, o que obrigaria o PMDB a entrar na aliança em qualquer condição.

Mas se a Dilma estiver fraca nas pesquisas, Lula já tem a convicção de que o PMDB não irá para o palanque, mesmo com um acordo prévio. Ou seja, não adianta agora pagar um preço ainda mais caro.


PRESIDENTE SARNEY, UM MUNICÍPIO ENTRE OS PIORES


RETRATOS DO BRASIL
O Globo


PRESIDENTE SARNEY (MA) - Ao ser emancipado em 1997, o povoado de Pimenta, no município de Pinheiro (MA), mudou de nome, mas não atraiu o interesse do homenageado por sua terra natal. Hoje, Presidente Sarney amarga uma das piores posições no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM).


Dos 5.560 municípios brasileiros, ele está em 5.542 lugar no IFDM, que mede dados de emprego, renda, saúde e educação. Dos presidentes homenageados no Maranhão (Dutra, Juscelino, Vargas e Médici), Sarney é o pior colocado. Mas a pobreza não se limita ao município que leva o nome do atual presidente do Senado. Das 20 piores colocações no IFDM, sete estão no Maranhão, governado há 40 anos pela família Sarney ou seus aliados, com breves interrupções.

Presidente Sarney não tem abastecimento de água e depende dos poços de algumas casas e do da praça, que é perene. A esperança é a ligação com o Rio Turi, distante nove quilômetros.

Sem saneamento básico, água encanada, emprego e hospital, Presidente Sarney é o retrato do abandono. Porcos, bois, cavalos, cachorros e bodes passeiam pela única avenida da cidade, a Padre Rios, onde também se acumula o lixo, que só é recolhido de três em três dias. A secretária de Saúde do município, Jamily Soares, conta que todas as crianças têm vermes.


SÁBADO É MARCADO POR PROTESTOS CONTRA SARNEY

Manifestações em SP, DF e RJ foram organizadas pela internet.
Em Brasília, manifestantes protestaram em frente à casa do senador.

Do G1, com informações da Agência Estado


Manifestantes se reuniram em São Paulo (SP), Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ) neste sábado (22) para pedir que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixe o cargo.

Em Brasília, um grupo de cerca de 35 estudantes protestou por cerca de uma hora em frente à residência de José Sarney com nariz de palhaço, caixas de pizza, panelas e colheres de pau.

Manifestantes pedem a resignação do cargo, de José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, durante protesto em frente à sua residência particular, no Lago Sul, em Brasília. (Foto: Dida Sampaio/Agência Estado)

O protesto foi combinado pela internet, via Twitter. No momento da manifestação, Sarney não estava em casa. Cinco viaturas da Polícia Militar e seguranças do Senado acompanharam o protesto, mas não foi registrada nenhuma ocorrência.

No Rio, a manifestação ocorreu em frente à casa do Presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), em Flamengo, zona sul. Três caixas de pizza vazias foram deixadas no chão de mármore da entrada do prédio onde mora o senador Paulo Duque.

Com faixas, panelas, apitos e um carro de som, o grupo andou da estação de metrô do bairro até o local, onde ficou por uma hora e meia. O comando do 2.º Batalhão da PM mandou 8 policiais - 3 estavam armados de fuzis. Eles pediram aos manifestantes que não ocupassem a calçada do prédio do senador e que desligassem o carro de som.

Manifestantes protestam em frente à casa do Presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), em Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro (RJ). (Foto: Marcos Arcoverde)

Manifestantes deixam pizzas em frente à residência do senador Paulo Duque, no Rio. (Foto: MARCOS ARCOVERDE/AE)


Participantes exibiam cartazes e nariz de palhaço(Foto: Ligia Guimarães/G1)


MOVIMENTO "FORA SARNEY" EM SÃO PAULO


Se o presidente Sarney e seu esquema não cairem, a economia vai desandar, de forma grave

Mais uma manifestação na Avenida Paulista.

O que mais me chama a atenção é o espanto com que muitos transeuntes olham para a passeata. É como se estivessem vendo algo de outro planeta. Muitos carros buzinaram em apoio e, mais uma vez, a Polícia Militar demonstrou respeito e nos ajudou na segurança.

Farei maiores comentários no domingo.

Fotos







PODEROSOS NÃO QUEREM SAIR DO PODER, DIZ LULA


Plantão
Luiza Damé, enviada especial

CHIMORÉ (Bolívia) - O comício faz parte da campanha de reeleição do presidente boliviano Evo Morales, mas como convidado especial do evento na região cocaleira de Chapare, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou para atacar seus adversários políticos no Brasil. No meio do tradicional discurso integracionista, Lula disse que os poderosos no Brasil e na Bolívia não se conformam de ter um índio e um metalúrgico na presidência.

- Todo santo dia no Brasil, Evo, somos desafiados a enfrentar a ira dos poderosos que não querem sair do poder. Eles não se conformam de ter um índio na presidência da Bolívia e um metalúrgico na presidência do Brasil - atacou Lula.

Depois de assinar autorização de um financiamento do governo brasileiro de US$ 332 milhões para construção de uma rodovia de 306 quilômetros na região central da Bolívia, Lula pediu a Evo Morales que amplie o prazo de negociação sobre a regularização dos cerca de cinco mil imigrantes brasileiros que estão na Bolívia em situação irregular.

O prazo vence em dezembro, mas Lula pediu mais tempo para que cada família decida se fica na Bolívia - sendo transferida para uma outra região - ou se volta para o Brasil.

- Eu peço Evo, que você olhe com carinho o problema dos imigrantes brasileiros - cobrou lula, pedindo mais prazo.


ESTUDANTES PROTESTAM NA PORTA DA CASA DE SARNEY


Plantão
Catarina Alencastro

BRASÍLIA - O refresco dado pela tropa de choque no Senado não livra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), de continuar tendo que assistir a protestos pedindo sua saída do cargo. Hoje, um grupo de cerca de 40 estudantes secundaristas e universitários abriu mão do sábado de descanso para ir à porta de sua casa, no Lago Sul, pedir sua renúncia. Empunhando cartazes com o já conhecido slogan "Fora Sarney", a garotada argumentava que não há mais espaço para que o senador continue no comando da Casa como se nada tivesse acontecido. Eles reclamaram da truculência de seguranças do senador, que os expulsaram da rua sem saída que dá para a casa de Sarney.

- O Sarney é o Brasil que não existe mais, o Brasil patrimonialista, o Brasil coronelista. A gente não aguenta mais isso - desabafou Mateus Lôbo, 20 anos, estudante de Ciências Políticas da UnB.

Abrigados da chuva sob árvores em frente à residência do senador, os manifestantes contaram que organizaram o manifesto pela Internet (comunidades no Orkut e Twitter) e no boca a boca.

- A esperança é o primeiro passo para que a mudança aconteça. Se o líder (dos senadores) tá envolvido em corrupção, isso dá um exemplo de impunidade. Se o presidente da Casa não é punido, o que dirá os demais - observou Gabriel Elias, 18 anos, estudante de Relações Internacionais da UnB.

Para Thaís Barreto, outra que protestava fervorosamente, o Brasil está "carente de lideranças honestas". Auto-intitulando-se de "geração Toddynho", a estudante universitária disse que o país merece políticos que saibam diferenciar o público do privado.


AS BAIXAS DO PT COM LULA PRESIDENTE


Desde a primeira eleição de Lula, em 2003, partido vem sendo criticado por mudanças em seu padrão ético. E perdeu deputados, senadores e figuras históricas

JOSÉ ANTÔNIO LIMA

A última semana marcou um dos períodos mais tensos para o PT desde a chamada crise do mensalão, em 2005. Ao encabeçar a defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o partido chegou perto de ver seu líder na Casa renunciar ao cargo, esteve sob uma saraivada de críticas a respeito de seu padrão ético e perdeu dois senadores. Desde que assumiu o poder, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto em 2003, pelo menos 14 políticos influentes já deixaram o PT (confira a relação abaixo). Em comum, o fato de todos terem criticado as atitudes que distanciam o partido de seus ideais fundadores.

Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo (USP), o PT passou por uma grande mudança desde que se tornou governo e ruma no sentido do pragmatismo. “O partido adotou o que alguns chamam de realismo político e passou a se curvar a alguns interesses institucionais como se não houvesse alternativa”, diz. “É uma completa ruptura com o que o PT representava em sua origem”, afirma.

O mais relevante desses interesses institucionais atualmente é a aliança com o PMDB. Como essa relação garante a maioria a Lula e pode render frutos em 2010 – quando Dilma Rousseff disputará a Presidência da República – o PT se destacou tanto na defesa de Sarney quanto na de Renan Calheiros (PMDB-AL), que deixou a presidência do Senado em 2007 em meio a denúncias de irregularidades. Nesta sexta-feira (21), o senador Aloizio Mercadante (SP) recuou do que havia dito e afirmou que permanecerá na liderança do PT no Senado, mas deixou clara sua insatisfação sobre a relação do partido com o PMDB. Segundo ele, o PT estava “pagando um custo político que não pode pagar” por conta desse apoio. “Nós precisamos lutar contra o patrimonialismo, pela reforma das instituições, e essa luta não pode se perder em busca da governabilidade”, afirmou Mercadante.

Para Moisés, ao se aliarem a Sarney, Lula e o PT referendaram “a posição mais tradicional do patrimonialismo”, que é o uso da política como patrimônio particular. Uma forma de combater o patrimonialismo de que fala Mercadante é aumentar a transparência das instituições. “Na fundação do PT, além da ideia de mudança social, havia uma proposta para democratizar a política, o que envolve criar elementos para controlar quem detém o poder”, diz o professor da USP.

O senador Eduardo Suplicy (SP), um crítico da postura recente do PT, avalia que a imagem da legenda já foi bastante afetada, e que é preciso resgatar os valores da fundação do partido. “Temos que reconhecer essa situação e tomar medidas para dar maior transparência ao Senado e a outras instituições”, diz. Alguns dos quadros políticos perdidos pelo PT têm bastante relevância no cenário nacional, e três deles podem concorrer com a ministra Dilma Rousseff em 2010 – Marina Silva, que deve ir para o PV, e Heloísa Helena (PSOL-AL) e Cristovam Buarque (PDT-DF), que já disputaram a eleição de 2006, vencida por Lula. Segundo Suplicy, essa é a única forma de mitigar a transformação do custo político em custo eleitoral. "Há uma cobrança enorme da sociedade ao partido e ela vai continuar até que venhamos a corrigir esses problemas", diz.

Confira abaixo os nomes de alguns dos principais políticos que deixaram o PT desde que o presidente Lula assumiu o cargo, em 2003.

Alguns dos principais petistas que deixaram o partido desde 2003
O ex-deputado federal Babá (PA) participava de um movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula que considerava “neoliberais” e, portanto, não adequados ao programa do partido. Quando começaram a votar contra o governo Lula na Câmara e no Senado, acabaram expulsos.
O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) deixou o PT em 2005 após Plínio de Arruda Sampaio perder a eleição para a presidência do partido, realizada em meio ao escândalo do mensalão. “O PT saiu de si mesmo ao negar os valores que construiu ao longo da história”.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) era ministro da Educação de Lula e, em 2004, foi demitido por telefone. Ficou no partido até 2005. “Eu não saí do PT, foi o PT que saiu de mim. Este é o grande crime do PT. O partido é de gente honesta, mas acomodada. A corrupção é de alguns petistas.”
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) deixou do PT em 2003 alegando que não concordava com as posições que o governo estava tomando com relação a questões ambientais. “Tudo tem limite”, disse ele na época.
O senador Flávio Arns foi para o PT em 2002, após deixar o PSDB. Na quarta-feira (19), após o arquivamento das ações contra José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética, disse que iria deixar o partido. “O PT jogou a ética no lixo, vai ter que achar outra bandeira. Posso dizer que tenho vergonha de estar no PT”. Ele foi acusado de usar o PT para se promover.
O jurista Hélio Bicudo, um petista histórico, deixou o PT em 2005 em meio ao escândalo do mensalão. Em 2006, declarou voto em José Serra (PSDB).
A ex-senadora Heloísa Helena encabeçava um movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula que considerava “neoliberais” e, portanto, não adequados ao programa do partido. Quando começaram a votar contra o governo Lula na Câmara e no Senado, acabaram expulsos.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) deixou o PT em 2005, também depois que Plínio de Arruda Sampaio perdeu a eleição para a presidência do partido. Em 2008, se disse chocado com o partido. “O que impressiona é que um partido possa estar negociado com dois, três partidos, mesmo que eles sejam adversários e até inimigos”.
A deputada Luciana Genro (PSOL-RS) participava do mesmo movimento de Heloísa Helena e foi expulsa depois de votar contra o PT.
O ex-deputado João Fontes (SE) participava do mesmo movimento interno do PT que passou a criticar as decisões do governo Lula em 2003. Foi expulso junto com Heloísa Helena.
A senadora Marina Silva deixou o PT na quarta-feira (19), após 30 anos militando pela legenda. “Já tive uma visão idealista, hoje tenho a clareza de que todos [os partidos] têm problemas a serem saneados”.
O ex-deputado federal Orlando Fantazzini (PPS) deixou o PT em 2005, também depois que Plínio de Arruda Sampaio perdeu a eleição para a presidência do partido, ganha por Ricardo Berzoini em meio ao escândalo do mensalão.
Petista histórico, Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) deixou o partido após perder o primeiro turno das eleições internas, realizadas em meio ao escândalo do mensalão. “O PT esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira”.
Soninha Francine, atualmente subprefeita da Lapa, em São Paulo, deixou o PT em 2007 para disputar a Prefeitura pelo PPS. Disse estar “desiludida” com o PT, “no sentido exato de não ter muita ilusão”.


ANALISTAS QUESTIONAM 'LIMITES' DA ATUAÇÃO DO GOVERNO NA CRISE DO SENADO

Fabrícia Peixoto
Da BBC Brasil em Brasília

A decisão do PT de trabalhar para impedir a investigação no Congresso das acusações de uso do cargo em benefício próprio contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), reflete uma opção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela preservação da aliança com o PMDB, de olho nas eleições de 2010, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Um dos principais aliados do governo no Congresso, Sarney enfrenta uma série de acusações, incluindo a de utilizar o cargo de presidente do Senado para nomear e exonerar parentes por meio de atos secretos.

Para o cientista político e diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac), Humberto Dantas, ao atuar a favor de Sarney, Lula vem "sistematicamente" rompendo com princípios que marcaram a atuação do PT na história política do país, como o combate à corrupção e ao uso da administração pública para fins pessoais.

"Mesmo dentro do jogo político e do pragmatismo, existem certos limites", diz Dantas. "A aproximação ao PMDB e ao senador José Sarney não compensam o desgaste pelo qual o presidente Lula e seu partido estão passando."

Durante a sessão do Conselho de Ética do Senado que arquivou as denúncias contra Sarney, na quarta-feira, o PT divulgou uma nota em que orientava os senadores do partido a votar pelo arquivamento.

No texto, o presidente do partido, Ricardo Berzoini, pedia a apuração das irregularidades pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, mas atribuía a crise em torno de Sarney a uma "disputa política relacionada às eleições de 2010".

"A forma como as denúncias concentram-se no presidente do Senado, José Sarney, não deixa dúvidas de que, mais que apurar e reformar, a pretensão é incidir nas relações entre partidos, que apoiam o governo ou que podem constituir alianças para as eleições nacionais e estaduais do próximo ano", dizia a nota.

Após a divulgação da nota, o senador Flávio Arns (PT-PR) disse que o partido “pegou a folha da ética e jogou no lixo” e anunciou que está deixando o PT.

O líder do partido no Senado, Aloizio Mercadante (SP), também chegou a ameaçar deixar a liderança da bancada, mas recuou da decisão após uma conversa com o presidente Lula.

Em discurso no Plenário do Senado, nesta sexta-feira, Mercadante disse que a aliança com o PMDB deve ser "preservada", mas que algumas questões defendidas pelo PT "não podem se perder em nome da governabilidade".

Eleições

A aliança com o PMDB, maior partido não apenas no Congresso Nacional, mas também com forte presença em todas as regiões, é considerada peça fundamental nas eleições presidenciais do próximo ano.

Além disso, a parceria com o PMDB pode dobrar o tempo a que o PT terá direito no horário eleitoral gratuito, canal de campanha importante principalmente para candidatos que não são conhecidos do grande público, como no caso da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef.

De acordo com a última pesquisa do Datafolha, a preferência pela ministra é de 16%, mesmo número registrado no levantamento anterior. O governador de São Paulo, José Serra, aparece com 37% e o deputado federal Ciro Gomes, com 15%.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que o presidente Lula fez um "cálculo": o de que vale sofrer o desgate de apoiar o PMDB e, assim, ter o respaldo do partido à candidatura da ministra Dilma.

"Ao defender o senador José Sarney, mesmo colocando sua própria imagem em risco, o presidente Lula mostra o quanto ainda precisa de seus aliados no PMDB", diz Reis.

"Essa aproximação condiz com a lógica do nosso sistema político, multipardiário e que, portanto, estimula essas coalizões. O fato de Lula se mostrar solidário a Sarney é algo explicável dentro da lógica do nosso sistema", acrescenta.

Custo "calculado"

Na opinião de Humberto Dantas, o sistema político brasileiro "estimula" coalizões e barganhas, pois cabe ao próprio presidente "costurar" a maioria no Legislativo, mas isso não impede o governante de "fazer escolhas".

"O próprio sistema obriga os governantes a fazer alianças improváveis. Mas vejo um certo exagero na aproximação entre o presidente Lula e o PMDB. O presidente pode, sim, fazer escolhas mais acertadas, mesmo dentro de um mesmo partido", diz o diretor do Cepac.

O professor Lúcio Rennó, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, avalia que o presidente Lula enfrenta um momento político "delicado", mas diz que isso "está longe de ser um problema para o governo".

"Sim, o presidente Lula tem forte relação de dependência com seus aliados no PMDB. Mas pelos cálculos do governo, o ganho nessa relação ainda é grande", diz o professor.

"Mesmo que esses escândalos criem uma demanda pela moralização na política, na visão do governo Lula o PMDB é fundamental para eleger um sucessor em 2010", conclui Rennó.


CASO SARNEY AMEAÇA 'PARALISAR' GOVERNO LULA, DIZ NY TIMES


Para jornal, Lula confia no PMDB para dar
controle à Petrobras do pré-sal
Uma reportagem do jornal americano New York Times desta sexta-feira afirma que o escândalo provocado pelas denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, ameaça paralisar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

"O líder do Senado do Brasil está sob forte pressão para renunciar em meio a um escândalo de nepotismo e corrupção que ameaça paralisar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o último ano do seu mandato", afirma a reportagem.

O texto intitulado "Escândalo pressiona um líder brasileiro a renunciar" é assinado de Brasília pelo jornalista Alexei Barrionuevo.

'Controle sem precedentes'

"As acusações contra Sarney envolveram o Senado em mais uma batalha intensa sobre o destino da sua liderança", lembrando as denúncias que levaram à renúncia de Renan Calheiros da presidência da Casa, há dois anos.

"O mais recente 'débâcle' vem em um momento difícil para Lula, que aguentou escândalos no seu próprio Partido dos Trabalhadores que obrigaram grandes autoridades a renunciarem."

O jornal diz que apesar de sua alta popularidade, Lula confia em sua aliança com o PMDB de Sarney para manter a "maioria magra" no Senado. O diário afirma ainda que o governo está preparando um proposta que daria à Petrobras "controle sem precedentes do desenvolvimento de grandes poços de petróleo em águas profundas [na camada pré-sal] que poderiam transformar o Brasil em uma superpotência, segundo uma pessoa que conhece a proposta de lei".

Além disso, o jornal afirma que Lula precisa de apoio dentro do Congresso para a candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência em 2010.

Segundo o New York Times, os escândalos envolvendo Sarney também complicariam as investigações do Congresso sobre possíveis erros cometidos pela Petrobras – "um inquérito que poderia durar até 180 dias".