Pesquisar este blog

domingo, 2 de agosto de 2009

TWITTER: QUEM PRECISA DE TANTA INFORMAÇÃO ASSIM?

SÁB, 01/08/09
POR PAULO NOGUEIRA

Tuitar ou não tuitar?

Tenho pensado nisso. Fui um entusiasta, nos últimos dois meses, e não estou aqui me despedindo do twitter.

Mas.

Mas é tempo de balanço.

Uma semana confinado aqui no apartamento de Fulham, perto da Putney Bridge, por força da schwwweeinefloo, na companhia milionária de meus três filhos, unidos na febre, na tosse, no uso do termômetro e na ingestão de Tamiflu, a grande estrela do verão inglês.

Oportunidade de fazer algumas coisas, como ver que a Camila, minha caçula de 12 anos, ruiva como uma musa pré-rafaelita, é capaz de digitar de olhos fechados em alta velocidade. O avô, que datilografava como um mestre, os dedos amarelados pelo cigarro deslizando pelas teclas da Olivetti como se fosse um piano, ficaria orgulhoso, imagino. Também pude apreciar o talento culinário do primogênito Emir, ainda que os pratos fossem servidos em horários extravagantes. Bom ver também a capacidade de comando do Pedro, filho do meio. Foi ele, quando a tosse efetivamente se instalou aqui, quem cuidou de ir ao computador e tomar as primeiras providências.

E chance também de refletir sobre a Era Digital e eu, um homem do papel impresso. São duas gerações completas de papel. Meu pai trabalhou 33 anos na Folha, e uma das cenas mais marcantes em minha infância era a chegada à noite de meu pai com vários jornais nas mãos. Fui meio que por acaso para o mundo das revistas, e não dos jornais, e nele estou há 30 anos. O fascínio do papel em nossa geração era tamanho que lembro sempre de um chefe que tive na Exame que, assim que chegavam a sua mão os primeiros cadernos da gráfica, os levava automaticamente às narinas. Duvido que algum perfume de mulher o tenha encantado tanto.

Mas.

Mas são tempos digitais, e a gripe me fez meditar sobre a Era Digital. Ou, mais especificamente, sobre o twitter. Tinha pensado, antes, apenas nas virtudes. Transmissão de conhecimento, sobretudo, por meio dos links curtos. Bonito, não é? Todos trocando informações, descobertas.

Mas.

Mas será que precisamos, mesmo, de tantas informações e descobertas assim? E trocadas pelo computador? Ontem minha vizinha de frente veio me avisar que sua reforma está chegando ao fim e perguntou se o pedreiro poderia verificar algo que é comum aos dois apartamentos - um cano de água - aqui no meu. Não sabia o seu nome, nem ela o meu. Você se enfia numa comunidade digital, como Facebook ou Twitter, e não conhece seu vizinho de frente.

Faz sentido?

Tenho pensado nisso.

(Leia aqui o post “A glória e a miséria da rede social”)

O Twitter estimula também algumas coisas não tão positivas quando seus fundadores e investidores gostam de apregoar. O número de seguidores, por exemplo. É fácil virar objeto de competição.

Você já compete tanto na vida, e se angustia tanto com isso, e ainda aparece o Twitter para colocar na sua agenda mais um item de competição? E a gratidão artificial de pessoas que mandam uma mensagem automática para você quando você começa a segui-las? O Twitter também vicia: se você não tem uma disciplina potente, vai ficar cada vez mais horas tuitando enquanto a vida acontece do lado de fora. É bem mais fácil falar em moderar o tempo no Twitter do que praticar.

Nestes dias, vi uma entrevista em que Kevin Spacey fez o papel de bobo diante da raposa do David Letterman. Isso também me fez pensar. Spacey, que fez o papel principal de um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, “Beleza Americana”, chegou à frente de Letterman e logo foi falando coisas incríveis sobre o Twitter.

Ou quase incríveis.

Letterman foi dando corda. Spacey tem quase 1 milhão de seguidores, e mostrou para Letterman que poderia, por exemplo, tuitar dali mesmo do programa com seu celular.

Ah é? Não diga.

Ensinou também questões de etiqueta, como a rudeza de escrever em letras maiúsculas ou usar exclamação.

Ah é? Não diga.

Spacey só não conseguiu explicar o que 800 mil seguidores poderiam representar em termos de dinheiro. Se ganhar dinheiro é uma incógnita, perder já é um fato. Um jogador do futebol inglês acaba de ser multado em 80 000 libras, ou 250 mil reais, por ter se queixado no Twitter de seu clube. Uma mulher enfrenta nos Estados Unidos um processo de 50 mil dólares por ter falado mal de um fabricante em seu Twitter de poucas dezenas de seguidores.

Letterman encerrou a conversa assim: “Sabe o que eu penso disso?”

“Quê?”, perguntou ansioso Spacey.

“Que é um desperdício de tempo.”

Não sei se David Letterman está certo. Suspeito que ele possa ter alguma inveja secreta porque outros entrevistadores americanos de televisão, como Oprah Winfrey, têm ainda mais seguidores que Kevin Spacey.

Mas.

Mas, mesmo esquecendo os defeitos do Twitter e se concentrando na virtude de facilitar transmissão de informações: quem precisa mesmo saber tanta coisa assim? Minha última entrada no Twitter foi para colocar uma conversa de cinco minutos de um repórter da BBC com Tracey Emin, umas das pessoas mais controvertidas da arte contemporânea britânica.

Mas.

Mas será que alguma das pessoas para as quais chegam minhas mensagens quer mesmo ouvir Tracey dizer depois de uma ligeira hesitação que entre Van Gogh e ela fica com ela mesma, e que opta por Damien Hirst, a versão masculina dela, sobre Michalangelo?

Sou, neste momento, não mais o tuiteiro entusiasmado dos primeiros dias.

Sou um tuiteiro relutante.

(Leia aqui o post “O twitter merece o Nobel da Paz?”)

Não vou abandonar, pelo menos não agora. Mas daqui por diante vou fazer um balanço mais acurado do que ganho e do que perco no Twitter.

Talvez eu precise conhecer melhor os meus vizinhos, na comunidade de carne e osso em que vivo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário