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terça-feira, 4 de agosto de 2009

PREPOTÊNCIA, INCOMPETÊNCIA, VULGARIDADE. OU: FERNANDO COLLOR DE MELLO


Por Reinaldo Azevedo

Alguns bobalhões enviaram comentários com a inteligência habitual que essa gente tem abaixo do tornozelo lembrando que já critiquei o senador Pedro Simon (PMDB-RS) por isso e aquilo. É verdade. Tenho minhas diferenças com o político gaúcho. Mas sou um bom moço católico. Escolho o bem absoluto. Na impossibilidade, fico com o mal menor sem abrir mão das minhas convicções. Collor? Fernando Collor de Mello? Nem para atravessar a rua! Nem para tomar um Chicabom!

Outros ainda dizem: “Ué, ele não é do seu campo ideológico?” A resposta é dada pelos fatos. Se fosse, não estaria com Lula, com o PT. Deve, então, ser do campo ideológico do Schopenhauer do Planalto, não meu. Se esta com Lula, é a ele que presta vassalagem. Não! Nunca votei neste senhor! Não votaria nem que me aparecesse uma luz na sarça ardente afirmando: “Este é o cara”. Nessa hipótese, consideraria ser uma das manifestações do demônio, que sempre se finge de Bem para pegar a alma dos viventes. Se o chifrudo aparecesse com sua face real, não convenceria ninguém, não é mesmo? O capeta — tomem a palavra como uma metáfora, por favor — só prospera porque conhece todas as faces das candura e pode imitá-la. Mas basta que o ambiente apele à sua real natureza, e aquele cheiro de enxofre toma o ambiente.

Collor voltou à política fingindo civilidade. Parecia aquele que caiu e voltava arrependido. Arrependido de quê? De PC Farias e suas lambanças. Das bobagens que fez na economia. Lembram-se do bloqueio dos ativos, conhecido como “bloqueio da poupança” ou “confisco”? Sabem como foi decidido pelo governo daquele patético caçador de marajás? Acreditem na própria Zélia Cardoso de Mello. Ela contou ao escritor Fernando Sabino, que escreveu um livro a respeito:
De vez em quando, para arejar a cabeça, [Zélia] descia ao térreo e participava um pouco da festa. Sempre que tem um problema, gosta de dar uma trégua para se distrair, deixando o subconsciente trabalhar. Escreveu num papel os números 20, 50, 70 e voltou à festa. Deixou-se fotografar com suas amigas, sempre a segurar o papel. Ao regressar à salinha, havia optado pelos cinqüenta mil cruzeiros. Encontrou a equipe ainda discutindo o plano.

Foi com esse rigor que o governo desse parlapatão decidiu quanto dinheiro seria liberado para os brasileiros. Como se vê, pura técnica e ousadia. No Youtube, há alguns filmes em que aquela senhora tenta explicar o seu plano, diante de um país perplexo. Ela também contou passagens do seu romance com Bernardo Cabral. Assim:

Os dois passaram a se ver diariamente: participavam de encontros no gabinete um do outro, e das reuniões ministeriais, em geral longas e exaustivas. De vez em quando, trocavam bilhetinhos debaixo da mesa. Um deles, entre os que ela ainda guarda consigo, dizia: “Esta sua saia curta está deliciosa”. Ela hoje acha graça:
- Imagina se, em vez de chegar às minhas mãos, fosse parar nas do general Tinoco.

O que acho de Collor? A mistura da prepotência e da incompetência com a vulgaridade, como se nota acima.

Mas volto ao ponto: ele parecia estar se emendando, não é? Os cabelos brancos lhe conferiam um certo ar circunspecto. A idade fez com que a gravidade lhe derrubasse um tanto um nariz, ainda aquilino, mas com aspecto menos voraz. Andou até conversando com líderes da oposição, prometendo independência — afinal, vá lá, mesmo ele sendo ele, é um ex-presidente da República. Nada disso. Faltava só o ambiente e a vítima.

E eles apareceram ali à sua frente. Viu no senador Pedro Simon a chance de recuperar o velho estilo, de mostrar que ainda pode conjurar as forças das profundezas mais atrasadas do país para falar com os dentes trancados, para expor a sua, sem dúvida, insuperável vulgaridade.

Tentarei achar um texto meu de 1989 — pré-Internet… À época, falava-se muito do português esfarrapado de Lula. E era mesmo. Demonstrei, à época, que Collor cometia o mesmo número de erros, só que eram outros. Se Lula falava “nimim”, o “Oligarquinha da Mamãe” errava no emprego do infinitivo flexionado (ou não). Eram erros derivados da origem de cada um. Cada um deles tinha o português pobre à sua maneira. O de Collor trazia a sintaxe e o vocabulário do arrivismo. Que se note: Lula, hoje, já não fala mais “nimim”. Sua língua de agora é igual à de Collor. Os dois se encontraram no idioma, na política e na vergonha na cara.

Collor do meu campo ideológico? Nunca! Collor não é conservador, direitista, liberal ou sei lá o quê. Collor é só a encarnação presente de um espírito que parece imortal no Brasil: o atraso, o mandonismo, a fanfarronice. Merece é uma estaca no coração — é metáfora, viu, gente? Qualquer um que respeitasse minimamente o Senado Federal não faria o que ele fez ontem. Para bom entendedor, ficou muito claro que, ao mandar o senador Simon engolir as palavras — e ele não retirou a grosseria, mas a reiterou —. fez alusão ao processo completo da digestão.

Sim, pode-se afirmar que Fernando Collor, na comparação com seu pai, até que avançou um pouco. Em 1963, o então senador Arnon de Mello (UDN-AL) e seu adversário Silvestre Péricles de Góes Monteiro (PSD-AL) sacaram armas dentro do Senado. Arnon errou o alvo e matou o suplente de senador José Khairallah (PSD-AC). Os litigantes foram presos. Em sessão secreta, por 44 votos contra 4, decidiu-se não abrir processo de cassação contra os dois pistoleiros. Tiveram a imunidade parlamentar suspensa e foram processados na Justiça comum. Sabem o que aconteceu? Foram absolvidos em abril de 1964. Essa gente entende de impunidade.

Como se vê, Collor é um avanço, mas só quando comparado aos de sua própria estirpe.

Não tentem jogar Collor no colo dos conservadores. Ele é da turma de Lula. Ele é só um coronel de velha cepa, com banho de loja, a serviço de Lula, o neocoronel urbano surgido no sindicalismo. São atrasos distintos que se combinam a serviço da permanente degradação da política.


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