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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O ABSURDO BRASILEIRO

Por Andreas Kisser, colunista do Yahoo! Brasil

Eu sei que esta é uma coluna dedicada à música, mas ela muitas vezes foi usada como condutor de mensagens de protesto (por sinal, esse foi o tema de uma de minhas colunas, clique aqui para ler), por isso, estou usando este espaço para - como músico e cidadão brasileiro - expressar o que sinto em relação a esta palhaçada no Senado.

Nestes últimos meses, nós brasileiros estamos presenciando um show de hipocrisia, mentiras, caras lavadas e a ratificação do coronelismo na política nacional. O que é ética? Ela existe na nossa política? Ela depende da maioria ou é um conceito independente de qualquer outra influência? Pelo que parece, no Brasil, ela depende de alianças políticas e ela é usada de acordo com a conveniência.

Uma das definições da palavra ética mais adequada à atividade política é: "Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão" - apesar de não considerar a política uma profissão, já que não existe faculdade ou escola para ser político, a não ser a própria política.

Conselho de Ética?! Que piada! Um conselho, que leva o nome que leva, baseado em maioria. Que ética é esta? Processos arquivados, políticos antes inimigos agora "lutam" do mesmo lado, xingamentos, baderna, gritaria, tudo isso acontecendo e o Brasil esperando os senadores se entenderem, se é que isso é possível. Muita coisa a ser discutida, assuntos a serem resolvidos mas nada anda, somos obrigados a assistir a este espetáculo lamentável das Vossas Excelências que, no ápice das discussões, também deixaram a educação de lado.

E nós, o povo, o que fazemos? Não acho que adianta nenhuma revolução ou qualquer outro movimento violento e, sem a ajuda da mídia, a população não sai às ruas para protestar. Os protestos que foram feitos contra José Sarney (PMDB-AP) foram tímidos e, por isso, os políticaos tiveram poder e a cara de pau de arquivar tudo. Por que agora é diferente da época do impeachment do ex-presidente e agora senador Collor?

A mídia em peso trouxe o povo para rua no que ficou conhecido como o protesto das caras pintadas e, em consequência disso, o presidente foi deposto. Todos se uniram para limpar a imagem dos políticos brasileiros. Por que agora não? Muito rabo preso no Senado.

Eu admiro o Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) que usa a música, inclusive o rap, para protestar contra estes absurdos. Parece que é brincadeira, mas ele só está reagindo devido ao nível em que o Senado se encontra. Até cartão vermelho ele mostrou para o Sarney, mas isso adiantou? Não muito.

A única forma de protesto e que pode mudar alguma coisa é o nosso voto, mas a grande maioria da população não tem acesso aos jornais e à internet - principalmente a web, onde você pode procurar mais opções e não ficar preso sempre aos mesmos meios de comunicação. A grande parte da população é ignorante e este é o terreno fértil para a política, só assim se explica ter o Collor novamente na política, apesar de toda a sua história de corrupção e escândalos.

Outra forma de protesto é a arte, seja música, poesia, gravuras, charges, etc., e é desta forma que eu faço o meu protesto. No meu primeiro disco solo, entitulado "Hubris I & II", fiz uma música com o escândalo do mensalão como inspiração, que inclusive não teve consequências para os envolvidos a não ser perder algumas mordomias, mas todos estão ai "trabalhando". Eu coloquei o nome da música de "Virgulândia", a Disneylandia de Virgulino.

Aqui no Brasil pode tudo, desde que você conheça alguém na política e peça para alguns dos coronéis que habitam o Senado para te livrar dos problemas. Uma vergonha!

Eu tenho muita esperança e fé neste país. Precisamos que a informação chegue a todos os cantos e que o povo tenha condições de avaliar com clareza os nossos representantes e que no voto se faça justiça. Fora com esta corja de sanguesugas, o Brasil não é deles!

Abaixo, deixo a letra e a música, que tem a participação do Rappin Hood:

Virgulândia
"Apelam os cassados, recorram seus mandatos
Mais um suplício a deus, a zeus e ao diabo
Mais um grilo falante no mercado de Dante
De terno os suínos, será isso genuíno?

Da Silva e a sua lei, o Zé e o "eu não sei"
Freud e a análise da picaretagem
O burro e o esperto, o voto submerso
Um rei analfabeto estupra o seu reto

A fome, a miséria, os "barraco" e a favela
O absurdo brasileiro
Analfabetismo que deixa sequela
O absurdo brasileiro
O povo nas ruas procurando emprego
O absurdo brasileiro
Bandido engravatado vive só no sossego
O absurdo brasileiro

O muleque abandonado, o coronel ressucitado
A seca e a ganância, a fome na infância
O valente brasileiro com dinheiro estrangeiro
Na rua todo dia , alma na melancolia
O país e a construção, hilária ilusão
Roubando na prisão estão matando esta nação
Palmas à falcidade, é mais e outra fraude
Assim que é o pais da impunidade!!!"

Andreas Kisser, casado, três filhos, músico, guitarrista do grupo Sepultura. Espera debater e, principalmente instigar novas idéias e caminhos usando a música como inspiração para a busca de entendimento e tolerância.


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