Pesquisar este blog

terça-feira, 25 de agosto de 2009

É O HORROR, É O HORROR - O MARANHÃO DE SARNEY


Por Mauro Ventura em 03/02/2009

Passei uns dias no Maranhão a trabalho. Cheguei ao hotel e havia um folheto de boas-vindas. Dizia: "Fundada em 1612 por franceses, invadida por holandeses, mas totalmente construída por portugueses, São Luís é a capital do Maranhão."

Pensei em alterar o texto: "Fundada em 1612 por franceses, invadida por holandeses, totalmente construída por portugueses, e afundada pela família Sarney, São Luís é a capital do Maranhão."

Mas o problema vai muito além da bela cidade. O Maranhão, feudo dos Sarney, é o estado mais pobre do país. Na verdade, sejamos justos: o recém-eleito presidente do Senado não está só em seu esforço por manter esse título. Passei por uma placa que anunciava "a nova sede da casa do povo". Olhei e vi um prédio de instalações faraônicas. É a nova Assembleia Legislativa. Dizem-me que custou R$ 100 milhões.

Percorri alguns municípios do interior do estado e vi a diferença que as cisternas fazem na vida da população. Elas guardam a água da chuva e, através de canos, levam-na para dentro das casas. O índice de mortalidade diminui drasticamente quando elas são instaladas. Um homem com quem conversei teve 11 filhos - seis morreram, segundo ele, por causa da "água ruim". Depois que instalaram uma cisterna, não houve mais mortes na família.

Um senhor de 51 anos disse:

- A cisterna veio aliviar o sofrimento de ter que carregar água 800 metros, do rio até aqui. Melhorou 100%. Eu levava 40 minutos para ir, e fazia duas viagens por dia. Doía sempre as costas, mas que jeito? Como uso um pote de barro, cansava de no meio do caminho ele quebrar e eu ter que voltar e pegar outro.

As cisternas também evitam outro problema, como me explicou um morador:

- Os políticos usam os carros-pipa como instrumento de dominação. Eles contratam os carros-pipa e só tem água quem vota neles.

Cada cisterna custa de R$ 2 mil a R$ 3 mil. Ou seja, a totalmente dispensável nova Assembleia bancaria quase 50 mil cisternas.

De volta a São Luís, os demais jornalistas foram ao Convento das Mercês, construído pelo padre Antônio Vieira em 1654. Eu estava muito cansado para ir. Na volta, eles estavam horrorizados. No convento, contaram, está o Memorial José Sarney, que abriga objetos do senador. Há a mesa de trabalho, o carro presidencial, o automóvel que dona Marly usava, fardões da ABL, um busto pavoroso e até um mausoléu para hospedar o corpo de Sarney. A Mariana Franco tirou até algumas fotos para me provar, como vocês podem ver.

O culto à personalidade no estado não tem limites. Difícil que em algum outro lugar, em qualquer época, tenha se visto algo semelhante. Contaram-me alguns exemplos:

Em homenagem à mulher, tem Maternidade Marly Sarney, Posto de Saúde Marly Sarney e Sala de Imprensa Marly Sarney.

A filha é lembrada na Escola Municipal Rural Roseana Sarney, na Escola Estadual Urbana Roseana Sarney, no Centro de Ensino Médio Governadora Roseana Sarney, na Avenida Roseana Sarney, na Vila Roseana Sarney e no Tribunal de Contas do Estado Palácio Governadora Roseana Sarney Murad (o TCE é quem aprova as contas do governo do estado!).

O filho ganhou a Avenida Sarney Filho e a Vila Sarney Filho.

A mãe, claro, não foi esquecida: Rodoviária Kiola Sarney, Sala de Defensoria Pública Kiola Sarney e Vila Kiola Sarney.

O pai tem sua cota: Fórum Sarney Costa

E o próprio está por todo lugar: Avenida José Sarney, Ponte José Sarney, Viaduto José Sarney, Praça José Sarney, Biblioteca José Sarney, Farol da Educação José Sarney, Auditório José Sarney, 1ª Travessa José Sarney, 2ª Travessa José Sarney, 3ª Travessa José Sarney, Escola Municipal Presidente José Sarney e Vila Sarney. E tem até município Presidente Sarney.

Só falta mudarem o nome de Estado do Maranhão para Estado do José Sarney. Porque, na prática, já é. Aliás, não duvido nada que ele já tenha tentado.



Nenhum comentário:

Postar um comentário