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sexta-feira, 31 de julho de 2009

EM VOLTA DA FUNDAÇÃO SARNEY, ABANDONO E RUÍNAS

Por Silvana Losekann

Mesmo durante o mês de julho, férias escolares e recesso parlamentar, a Fundação José Sarney, em São Luís, abre para visitas em duas tardes por semana – terça e quarta-feiras. Abrigado no segundo andar do antigo Convento das Mercês, no centro histórico da capital maranhense, o museu tem enormes salas vazias, o que na prática exerce uma única finalidade. Suas janelas funcionam como camarote para os espetáculos de bumba-meu-boi, patrimônio cultural do Estado, que se iniciam ao anoitecer e se desenrolam durante a madrugada na arena do convento.

O Ministério Público Estadual do Maranhão reprovou as contas apresentadas pela Fundação José Sarney entre 2004 e 2007 e pede reformulação administrativa da entidade, cujo presidente vitalício é o senador José Sarney (PMDB-AP). O Diário Oficial maranhense publicou resultado de auditorias que constatam irregularidades no repasse de verbas da Petrobras e outras empresas, públicas e privadas, à instituição.

Tarde da sexta-feira, 17 de julho, a fundação fechada para visitas. Após alguma insistência, o guarda consentiu que se subisse as escadas que dão à entrada do museu. O primeiro salão conta, em painéis, a história do Brasil: ciclos econômicos, movimentos de ocupação do território, composição populacional etc.

Uma das paredes deste salão exibe o memorial de presidentes brasileiros. Um quadro com imagem e biografia resumida de cada um dos homens que sentaram na cadeira hoje ocupada por Luiz Inácio Lula da Silva. O atual presidente, no exercício de seu segundo mandato, não está incluído no memorial.

Lula vem defendendo Sarney, apontado como executor de atos secretos, e disse que o aliado político não deve ser “tratado como uma pessoa comum”; colocou-se contra seu afastamento, mesmo que temporário, do cargo.

O corredor de salas administrativas do museu, agora na mira do MPE, é coberto de charges, cartuns e documentos que ilustram a carreira política de Sarney, governador do Maranhão entre 1966 e 1971, senador maranhense entre 1971 e 1985, pelo Amapá desde 1990, e Presidente da República de 1985 a 1990.

Uma dessas ilutrações traz Sarney na figura de um bebê carregado no colo por Tancredo Neves, eleito presidente em 1985 mas morto antes da posse e, por isso, substituído por seu vice, Sarney. Atrás de Tancredo, uma fila com os generais da ditadura militar (1964-1985); como no tradicional desenho da evolução humana, eles se desenvolvem, se empertigam e ganham tamanho – em ordem crescente: Castelo Branco, Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo…

No mesmo corredor, uma carta de Santos Dumont em francês homenageando a capital do Maranhão, documento sobre o pai de Sarney, cujos óculos pince-nez se encontram expostos na sala ao lado, protegidos por um cômodo de vidro, entre outros objetos da família: porcelanas chinesas, telas, apetrechos de uso pessoal banhados a ouro e prata, medalhas, moedas, selos, cédulas etc.

Anunciado pela secretaria de Turismo maranhense como principal atração da capital, o Convento das Mercês é mais frequentado por ludovicenses. As festas de cultura popular em julho, o Vale Festejar, estampam a assinatura da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). As ruas de paralelepípedo que circundam o prédio histórico têm a graça nos nomes, mas tristeza na preservação.

Percorrendo-se, entre outros, o Beco da Bosta, a Praça da Alegria, a Travessa Feliz ou o Beco do Quebra-Bunda, vê-se abandonados os sobrados e casarios, considerados pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade e tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Exalam odor de urina e poluição. As fachadas expressam depredação, afrescos portugueses padecem expostos às ações humana, climática e temporal. E às carências de uma verba que não vem.


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