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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

VENDA DE AVIÃO DE COMBATE É ATO POLÍTICO, AFIRMA PRESIDENTE DA DASSAULT

do "Le Monde"

Na manhã após a assinatura, no dia 7, do compromisso assumido pelo Brasil de adquirir 36 caças Rafale, Charles Edelstenne, presidente da Dassault Aviation, falou sobre as discussões que levaram a essa escolha, que proporcionou à empresa francesa de aviões sua primeira vitória em exportações. Os aviões concorrentes, o F-18 Super Hornet, da Boeing, e o Gripen, da empresa sueca Saab, foram descartados. As negociações para concretizar o acordo começam nesta semana.

PERGUNTA - O sr. acaba de receber a promessa de compra de 36 aviões de combate. Qual é sua reação?
CHARLES EDELSTENNE - Estou muito satisfeito, é claro. O que aconteceu neste fim de semana ilustra algo que venho dizendo há anos: vendas de aviões de combate são atos políticos. São os políticos que vendem. O industrial produz um avião e tem que aceitar a melhor oferta possível. Mas foi Nicolas Sarkozy quem vendeu o Rafale, não nós. O sucesso é dele, graças a decisões políticas que ele tomou [parceria estratégica entre França e Brasil] e a relações de proximidade e confiança que soube criar com seu colega brasileiro, o presidente Lula.


PERGUNTA - Seus fracassos anteriores podem, então, ser atribuídos unicamente à ausência de engajamento do poder público francês?
EDELSTENNE - É preciso definir nosso mercado para aviões de combate: são países que não querem ou não podem comprar dos EUA ou que querem dispor de uma dupla fonte de fornecimento. As três primeiras concorrências das quais participamos não se enquadravam nessa categoria: na Holanda em 2001, na Coreia do Sul em 2002 e em Cingapura em 2005, fizemos a aposta de Pascal ("se ganhar, ganhará tudo; se perder, não perderá nada"), tentando penetrar em mercados reservados aos EUA. Não foi a qualidade de nosso avião que foi questionada, foi a relação político-diplomática que teve precedência. No Marrocos em 2007, foi a equipe francesa que funcionou mal, e os americanos se beneficiaram disso. Entretanto, os marroquinos queriam comprar o produto francês. As lições desse incidente levaram à criação do "war room" no Eliseu (uma célula encarregada de coordenar e promover as vendas de armas ao exterior) e ao engajamento do presidente.

PERGUNTA - Antes de ir a Brasília o sr. não tinha a certeza de obter o contrato. Quando isso foi decidido?
EDELSTENNE - O momento decisivo aconteceu na noite de domingo, 6, para a segunda, 7. Na saída do jantar com Lula, Sarkozy nos disse: "Ainda há algumas questões a esclarecer; vocês têm até amanhã para resolver tudo". Com as equipes do Eliseu e nossos parceiros brasileiros, passamos parte da noite negociando para resolver tudo o que precisava ser resolvido.

PERGUNTA - Quais são os pontos principais do acordo? É verdade que vocês vão ceder os planos do Rafale?
EDELSTENNE - O Brasil já tem uma indústria aeronáutica. Os brasileiros não precisam de nossos planos para fabricar aviões. Mas querem adquirir os conhecimentos dos "sistemas" (tudo o que diz respeito aos materiais eletrônicos no avião), para dominar a evolução de seu Rafale e fabricar seu próprio avião de transporte militar. Vamos lhes fornecer essas tecnologias e acompanhá-los nos desenvolvimentos futuros.

PERGUNTA - Vocês vão transferir a produção para o Brasil?
EDELSTENNE - Não vamos criar uma unidade de fabricação local. Os brasileiros pedem sobretudo transferência de tecnologia. Mesmo assim, é evidente que, no longo prazo, aviões Rafale serão produzidos em suas fábricas. Este acordo tem um impacto positivo em termos de empregos na França. Para a indústria aeronáutica francesa, representa mais ou menos 6.000 empregos adicionais durante quatro anos, e depois, entre 1.500 e 2.000, durante 25 a 30 anos.

PERGUNTA - Vocês não correm o risco de criar um concorrente?
EDELSTENNE - O tempo de vida de um avião de combate é de cerca de 40 anos. Os brasileiros terão Rafales que poderão ser entregues em três anos. Portanto, não terão necessidade de criar um avião concorrente.

PERGUNTA - Americanos e suecos foram brutalmente descartados da concorrência, que deveria chegar ao fim em 23 de outubro. O sr. não teme reações da parte deles?
EDELSTENNE - Essa escolha foi feita pelas autoridades brasileiras. Fomos convocados nesta semana para dar início às reuniões. O objetivo é concluí-las em entre seis e nove meses.

Tradução de Clara Allain


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