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terça-feira, 8 de setembro de 2009

EX-PRESIDENTE JOSÉ SARNEY DIZ QUE ULYSSES GUIMARÃES ERA O 'DONO DO PODER'


Sarney contou que nos cinco anos de governo sofreu intenso boicote por parte dos bancos internacionais que negaram ao país sucessivos pedidos de financiamentos.

Brasília – Alçado à Presidência da República em março de 1985 pela fatalidade da morte de Tancredo Neves, o atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), revelou durante entrevista ao programa 3 a 1, da TV Brasil, que o verdadeiro “dono do poder” naquele período era o peemedebista Ulysses Guimarães, então presidente da Câmara, presidente do PMDB e vice-presidente da República que, para completar, foi presidente da Assembléia Nacional Constituinte instituída em 1987.

Para consolidar-se no comando do governo, Sarney fez do Plano Cruzado o instrumento político necessário que lhe deu as condições para atingir seu objetivo de conquistar a opinião pública e legitimar-se de fato como presidente. Ele reconheceu que, do ponto de vista econômico, o Cruzado foi um plano equivocado.

“Na realidade eu fiquei no governo, mas o poder político ficou nas mãos do Ulysses Guimarães. Essa é que é a verdade. Dependeu da minha parte, eu ajudei talvez o Brasil com meu temperamento para fazer o governo de coalizão. O Ulysses era o dono do poder político”, recordou José Sarney.

Diante dessa realidade e da convicção de manter uma boa relação o colega do PMDB, partido que acabara de ingressar, José Sarney disse que tinha que buscar um modo de legitimar-se no poder e afastar de uma vez por todas sua deposição, que dava como certa caso tentasse naquele momento assumir de fato o comando do Executivo.

“Foi o Plano Cruzado que legitimou o presidente Sarney. A partir dali afastei o fantasma da minha deposição, eu passei a exercer o governo por dentro”, relatou o senador e hoje peça-chave no seu partido.

Se não era um bom plano econômico, o Cruzado representou uma quebra do Brasil com a cartilha de política ortodoxa sempre imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) aos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, defendeu o ex-presidente. O plano, para ele, foi o pioneiro num caminho trilhado por tantos outros chegando ao Real, iniciado no governo Itamar Franco e consolidado nos oito anos de gestão de Fernando Henrique Cardoso.

Sarney contou que nos cinco anos de governo sofreu intenso boicote por parte dos bancos internacionais que negaram ao país sucessivos pedidos de financiamentos. O objetivo era estabilizar as reservas internas, usadas para garantir o consumo excessivo, consequência do Cruzado e que levou o país a dar o calote aos credores externos com a decretação de moratória.

“Alguns me falavam que poderia continuar a negociar, mas eu tinha medo porque negociamos um ano com os bancos, eles nos prometiam, vamos dar tal crédito, e nós esperávamos o crédito e finalmente ele não vinha. Então eu desconfiei que a intenção que havia era de levar o Brasil a uma bancarrota. A partir daí eu não tinha solução que não fosse a moratória.”

Neste período de transição, marcado por uma profunda crise econômica e delicada condução política, Sarney relembrou durante o programa ações das quais se orgulha em ter tomado assim que assumiu a Presidência da República. A legalização dos partidos de esquerda, banidos da história republicana foi uma delas.

Segundo o ex-presidente, o ato garantiu às forças de esquerda o fortalecimento como instituições políticas para conquistar espaços no cenário político brasileiro. “Se nós mantivéssemos essas forças de esquerda que estavam emergindo na clandestinidade, se nós tivéssemos mantido aquele quadro, elas não teriam a expansão de espaço político para que pudessem exercer seus ideais”.


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