PMDB e PSDB tentam evitar que crise no Senado afete alianças
Por Fernando Exman
BRASÍLIA (Reuters) - Preocupados com o potencial estrago da crise no Senado nas relações entre os dois partidos em um ano pré-eleitoral, lideranças do PMDB e do PSDB deram início a um movimento para evitar que as hostilidades na Casa contaminem alianças nos Estados e conversas em âmbito nacional para 2010.
A crise tomou um caráter partidário na terça-feira, quando o PSDB protocolou no Conselho de Ética do Senado três representações por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Casa, o peemedebista José Sarney (AP).
O PMDB, por sua vez, prometeu fazer o mesmo contra o líder tucano, senador Arthur Virgílio (AM), também por supostas irregularidades.
Para diminuir a temperatura, o presidente licenciado do PMDB, deputado Michel Temer (SP), conversou por telefone nesta quinta-feira com o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), sobre a necessidade de "pacificar" as relações entre as legendas. O PSDB gostaria de ter o PMDB, hoje aliado do governo Lula, como parceiro na campanha de 2010.
"A questão do Senado não é uma questão do PMDB, não é uma questão do PSDB. É uma questão do Senado", disse à Reuters Sérgio Guerra, após a conversa com Temer.
"Nossa posição não é contra ninguém nem a favor de ninguém (...) Trata-se de fazer o Conselho de Ética funcionar e de dar rigorosamente satisfação à opinião pública", acrescentou.
Antes da decisão do PSDB agira contra Sarney no Conselho de Ética, o líder tucano no Senado vinha apresentando individualmente denúncias contra o peemedebista. Foi exatamente esse o estopim da crise entre as duas legendas.
Para o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB), que tenta patrocinar uma aliança nacional entre seu partido e o PSDB, a crise no Senado não afetará as negociações para as eleições.
"Acho que isso vai ser superado. O Senado acaba se alinhando, não vai haver radicalismo", apostou.
"Há um espaço de tempo muito grande para as coisas se estabilizarem. Acho isso não vai afetar 2010", complementou, lembrando que o governador tucano José Serra (SP) só deve formalizar sua intenção de disputar a Presidência no ano que vem.
Nas últimas o bloco de apoio a Sarney vem sofrendo contínuas defecções. Além de parte da bancada do PT e de posições até então individuais do PSDB, o próprio DEM, que ajudou a colocar o peemedebista no comando do Senado, já retirou seu apoio.
Isso aprofundou o desgaste de Sarney, um dos principais aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso e da pré-candidatura a presidente da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Sarney é acusado de cometer irregularidades na administração do Senado, empregar pessoas ligadas à sua família e desviar dinheiro público por meio de uma fundação que leva o seu nome.
Por enquanto, ele poderá enfrentar cinco representações por quebra de decoro parlamentar -três de autoria do PSDB e duas do PSOL-, todas com risco de resultar em cassação do seu mandato. As ações começarão a ser analisadas na semana que vem, depois do recesso parlamentar, junto com as outras seis denúncias individuais apresentadas por Virgílio e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
PARTIDO AMIGO
Embora seja um aliado estratégico do governo, um estremecimento entre o PMDB e o PSDB não interessa aos pré-candidatos tucanos à Presidência, os governadores Serra e Aécio Neves (MG). Eles sabem quão importante seria o apoio do PMDB, maior partido do país, nas eleições do ano que vem.
"O PMDB é um partido amigo e eu o trato como um partido amigo", destacou Guerra.
A magnitude do impacto dessa disputa, entretanto, ainda é incerta.
"Temos que ver até que ponto essa história vai ferir o PMDB", disse o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), aliado incondicional de Sarney e integrante titular do Conselho de Ética da Casa.
"No momento em que se parte para o ataque partidário contra uma pessoa com a importância do presidente Sarney, isso pode ferir o brio do peemedebista."
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